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Exposição Utensílios Nativos reúne peças feitas com três madeiras nativas brasileiras, oriundas de agloflorestas

O IED faz exposição de peças de uso doméstico criadas a partir de madeira nativa brasileira por nove designers brasileiros: Gustavo Dias, Hugo França, Juliana Llussá, Leonardo Bueno, Natasha Schlobach, Pedro Braga, Ricardo Graham, Rodrigo Ambrósio e Sérgio Cabral

IED, Urca, Rio de Janeiro
12 a 30 de setembro de 2018
Idealização, curadoria e direção: Natasha Schlobach
Realização e Produção: Futuro Florestal e Instituto Coruputuba
Entrada gratuita

O IED apresenta a exposição “Utensílios Nativos”, com peças criadas em madeira nativa brasileira proveniente de manejo com certificado por nove designers: Gustavo Dias, Hugo França, Juliana Llussá, Leonardo Bueno, Natasha Schlobach, Pedro Braga, Ricardo Graham, Rodrigo Ambrósio e Sérgio Cabral.

Para a realização e produção das peças foram utilizadas três madeiras nativas, oriundas de agrofloresta: guanandi, louro pardo e jequitibá rosa. Os objetos criados são variados: desde conceituais, sem função, interativos ou inanimados, até utensílios de gastronomia como tigela, fruteira, travessa, caneca, prato, bule, jogo de colher de pau, tábua de corte, porta-vinhos, entre outros. Há também utensílios de uso pessoal – porta-joias, óculos, joias, uso intimo, porta-livros – e para casa, como vaso, cesto, banquinho, luminária, revisteiro e cabideiro.

A exposição “Utensílios Nativos” pretende demonstrar o potencial da agrofloresta na produção de design nacional, em consonância com a melhoria na qualidade de vida.  A iniciativa também busca o resgate da identidade cultural brasileira através de seus hábitos domésticos. A vida doméstica e seus utensílios são uma maneira eficaz de estudar a cultura de um povo, pois esta intimamente ligada ao cotidiano das sociedades, revelando com isso a identidade de cada povo em todos os tempos históricos.  Os objetos demonstram ainda hábitos regionais e tradicionais de uma sociedade, bem como influências absorvidas com o passar dos anos. É possível assim ter uma base sobre o processo de formação e desenvolvimento cultural de uma sociedade. Fazendo um recorte na cultura brasileira podemos exemplificar algumas influências culturais através dos hábitos a partir da cultura indígena, portuguesa, inglesa, francesa, africana, holandesa, entre tantas outras.

Agrofloresta é uma forma de uso da terra na qual se resgata a forma ancestral de cultivo, combinando espécies arbóreas lenhosas como frutíferas ou madeireiras com cultivos agrícolas e/ou animais. Essa combinação pode ser feita de forma simultânea ou em sequência temporal, trazendo benefícios econômicos e ecológicos. Agrofloresta é um sistema ancestral de uso da terra que vem sendo praticado há milhares de anos por agricultores de todo o mundo. No entanto, nos anos mais recentes, também tem sido desenvolvida como uma ciência que se compromete a ajudar agricultores a incrementarem a produtividade, rentabilidade e sustentabilidade em suas terras.

Reflorestamento é uma forma sustentável de produzir madeiras tropicais nativas em diferentes sistemas de plantio, desde o mais tradicional que utiliza apenas uma única espécie, chamado de plantio homogêneo, como plantios mistos ou biodiversos, onde são utilizadas duas ou mais espécies arbóreas, entre madeireiras, frutíferas e palmáceas, que interagem positivamente fazendo com que a simbiose do sistema produza efeitos mais positivos, melhorando o desenvolvimento do projeto, com maior sustentabilidade.

O reflorestamento e os sistemas agroflorestais (SAFs) são modelos de projetos com espécies arbóreas que podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. A tecnologia ameniza limitações do terreno, minimiza riscos de degradação inerentes à atividade agrícola e otimiza a produtividade a ser obtida. Há diminuição na perda de fertilidade do solo e no ataque de pragas. A utilização de árvores é fundamental para a recuperação das funções ecológicas, uma vez que possibilita o restabelecimento de boa parte das relações entre as plantas e os animais. Os componentes arbóreos são inseridos como estratégia para o combate da erosão e o aporte de matéria orgânica, restaurando a fertilidade do solo.

GUANANDI

O guanandi ou jacareúba (Calophyllum brasiliensis Cambeáedes; Clusiaceae ou Gutiferae, da mesma família do mangosteen e do bacuri) é uma árvore brasileira. Por vezes a espécie é denominada também de Calophylum Antillanum ou Calophillum Mariae. Calophyllum em grego significa “folha bonita”.  Considerada uma das primeiras madeiras de lei do Brasil, o guanandi possui características específicas que o torna um ótimo empreendimento comercial na área de reflorestamento para uso madeireiro e não madeireiro, como o uso cosmético e medicinal. Decretada em 7 de Janeiro de 1835 como uma das madeiras de lei com uso restrito da Coroa Portuguesa, se tornou referência na economia brasileira. A partir do decreto, as espécies referenciadas passaram a ser denominadas como madeiras de lei e atualmente são chamadas de madeiras nobres, ou seja, que possuem maior durabilidade natural, bom aspecto e elevada estabilidade. Foi muito utilizada para a construção de navios das frotas portuguesa e inglesa, nos séculos 17 e 18. A madeira de guanandi, assim como outras madeiras brasileiras, foi parte importante no interesse Inglês de firmar parceria comercial com Portugal, o que propiciou a vinda da família real portuguesa ao Brasil, algo que os livros de historia omitem. Praticamente imputrescível dentro da água e muito mais leve que o carvalho europeu, madeiras como o guanandi e o mogno absorviam as balas de canhão sem sofrerem danos à estrutura dos navios que as utilizaram em sua construção, devido a sua densidade mediana. O uso sustentável de sua madeira é considerado como uma das melhores alternativas ao uso predatório do mogno e do cedro rosa. É considerada tão bonita e trabalhável quanto aquelas. As árvores plantadas de guanandi sofrem poucos ataques de pragas, se comparada com outras espécies nativas como o mogno e o cedro rosa, atingidas pela broca do ponteiro.

LOURO PARDO

O louro pardo, espécie nobre, conhecido cientificamente como Cordia trichotoma, e primo da Mata Atlântica do louro freijó da Amazônia, é por isso também chamado popularmente de freijó, com características similares a essa madeira amazônica. Ocorre naturalmente nas áreas tropicais e subtropicais do Brasil, Argentina e Paraguai. No Brasil é encontrado do Ceará ao Rio Grande do Sul, e o limite norte situa-se na região de Cáceres, Mato Grosso. É comum na vegetação secundária, no estágio de capoeira e capoeirões, em várias formações vegetais. É uma das espécies nativas com maior potencial para o plantio com fins econômicos, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, por apresentar uma combinação de aspectos favoráveis como: crescimento rápido, boa forma, madeira de qualidade, frutificação abundante e facilidade de produção de mudas, porém importante de ser plantado em modelos mistos e com boa diversidade, visto que tem pouca aptidão para plantios puros, devido à ocorrência de pragas. Sua madeira é muito usada para a movelaria de luxo, em geral em serrados, laminados e revestimentos. Tem boa resistência à flexão e possui atributos estéticos e decorativos, com estabilidade para usos interiores, sendo também muito utilizada para a fabricação de cabos de ferramentas. Sua árvore pode alcançar 35 metros de altura, com tronco reto e cilíndrico, dando fustes de 10 a 20 metros. Suas flores pequenas, brancas, perfumadas e com floração vistosa, tem também propriedades melíferas. O louro pardo apresenta melhor crescimento nas áreas sem geadas rigorosas, porém suporta geadas mais leves. Em seus primeiros anos de vida, é sensível ao frio e pode sofrer com as geadas tardias. Sua plantação é mais recomendada para plantios em locais com temperatura média de 18ºC.  No Estado de São Paulo a Futuro Florestal e Tropical Flora têm utilizado essa espécie desde 2004 nos plantios mistos e agroflorestais, sendo que os mais antigos estão atingindo 14 anos de idade em 2018, gerando madeira proveniente de desbastes que já podem ser utilizados pelo consumidor. A Apremavi tem produzido mudas de louro pardo no viveiro Jardim das Florestas, para utilização em projetos de recuperação de áreas de preservação permanente (APPs), e também em plantios com fins comerciais.

JEQUITIBÁ ROSA

O jequitibá rosa é uma das maiores árvores e longevidade da flora brasileira, e possui flores pequenas de cor de creme. É uma árvore emergente símbolo dos estados de São Paulo e do Espírito Santo. Seu porte e beleza fizeram com que seu nome fosse dado a cidades, ruas e palácios. Atinge uma altura média de 30 a 50 metros, com um diâmetro médio de 70 a 100 centímetros, mas pode chegar a 70 metros, sendo considerada a maior árvore da Mata Atlântica brasileira. Sua madeira é leve, com baixa densidade e macia, sendo muito utilizada em construções civis, móveis, brinquedos, portas, janelas, acabamento em geral. Foi descrita como Cariniana brasiliensis por Casaretto, em 1842, no Rio de Janeiro. Porém essa espécie já havia sido descrita pela primeira vez por Von Martius, em 1837, como Couratari legalis. Então foi realizada uma revisão de gêneros botânicos por Kuntze, em 1898, que a renomeou como Cariniana legalis. Uma das árvores mais velhas conhecidas no Brasil é o jequitibá rosa que se localiza no Parque Estadual de Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro, e fica no meio da Trilha dos Jequitibás. A partir de medições com Carbono 14, estimou-se a idade desse jequitibá denominado de “O Patriarca”, em 3.035 anos, e ele possui uma altura de 41 metros e um diâmetro do tronco de 3,6 metros. O maior jequitibá foi descrito em São Paulo, com uma altura de 60 metros e mais de 6,1 metros de diâmetro. Floresce nos meses de dezembro a fevereiro, e a maturação dos frutos ocorre nos meses de agosto a setembro. Originalmente encontrada no centro e sudeste do país (estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul), e também em Alagoas, Bahia, Paraíba e Pernambuco, na Mata Atlântica, tanto na pluvial quanto na latifoliada semidecidual, sempre em solos férteis. Talvez ocorra também na Colômbia e na Venezuela. Ocupa o estrato superior da floresta primária densa, na qual é maior sua ocorrência. A ameaça à espécie, que cresce em terras férteis, vem da expansão agrícola e urbana. Vem sendo plantada em sistemas agroflorestais, plantios homogêneos e mistos pela Futuro Florestal no interior de São Paulo, resgatando a espécie da ameaça de extinção pela exploração predatória, o que traz uma nova alternativa para o seu uso sustentável em um futuro breve.

Os plantios de espécies nativas como o guanandi podem diminuir a pressão de exploração de muitas árvores amazônicas pelo corte predatório nas florestas naturais, visto que o corte de um simples mogno na Amazônia, por exemplo, pode provocar a derrubada de até 30 outras árvores – dado que os mognos, ao contrário dos guanandis, não ocorrem em ajuntamentos. Esta substituição pode provocar um efeito fantástico sobre a diminuição do aquecimento global a longo prazo, uma vez que compradores europeus, japoneses e americanos já começam a aceitar pagar mais caro por madeira de reflorestamento certificada. Essa alternativa sustentável fez surgir plantações comerciais de guanandi pelo país desde o início dos anos 2000, tendo ganhado mais força a partir de 2003 com os plantios em escala comercial realizados por empresas como a Tropical Flora Reflorestadora, e, hoje, já conta com área de plantio estimada em torno de cinco mil hectares, fragmentada em diversos produtores de diferentes estados, a maioria em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Tocantins. Em 2018 já existe a oferta de madeira proveniente de desbastes de até 15 anos de idade. Essas plantações mostram-se uma boa alternativa à derrubada ilegal de madeira na região amazônica, com uma pegada de carbono infinitamente menor por estarem localizadas mais próximas aos grandes centros de consumo. Os ciclos de produção podem trazer um horizonte de fornecimento mais estável ao mercado de madeiras, visto que as colheitas são programadas no início do projeto, e como se tratam de ciclos mais longevos de produção se torna ótimo para a fauna e flora local, além de ser excelente alternativa previdenciária aos produtores rurais e investidores, gerando excelente impacto social e ambiental no meio rural com a fixação do homem ao campo. Outros benefícios importantes são a permeabilidade do solo onde ele é plantado, permitindo a recarga dos aquíferos e por consequência a recuperação de mananciais como nascentes, rios e córregos próximos às áreas de plantio.

Serviço: Exposição “Utensílios Nativos”

IED (Istituto Europeo di Design)
Av. João Luis Alves, 13, Urca
Telefone: 21 3683 3786
Segunda a sexta, das 11h às 21h, sábados das 9h às 17h
Entrada gratuita
Inscrições: https://ied.edu.br/rio/

Por CWeA Comunicação

Imagens: Divulgação

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